Pós-Graduação em Enfermagem de Saúde Mental

Pós-Graduação em Enfermagem de Saúde Mental
Espaço criado no sentido de apoiar as aulas teoricas da PG em Enfermagem de Saúde Mental, da Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Setúbal. É uma Unidade curricular teórica que centra o seu enfoque na escola como sistema e espaço de intervenção profissional do enfermeiro, enquanto elemento activo do programa de saúde escolar.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Bullying e a violência nas escolas

As escolas são instituições que simultaneamente emergem de uma determinada cultura e assumem a sua difusão. Ideologias, factores socio-economicos moldam e dão forma ao ambiente de aprendizagem.
A escola é neste momento, o agente fundamental que cada vez ocupa mais tempo na vida do Homem, ganhando cada vez mais peso na formação socio-cultural do indivíduo. A sua frequência vai promover, nas crianças e adolescentes, o desenvolvimento das competências sociais, pois é aqui que ela mais interage, quer com os colegas, quer com os técnicos educativos e assume regras e normas. É sem dúvida, o reflexo do sistema social quer ao nível dos valores e ideologias dominantes na sociedade. Depois da família, a escola integra e amplia a educação dada pelos pais ou encarregados de educação.
A escola assume, portanto, um papel decisivo na formação do sujeito, mas parte do tempo que passa na escola passa-o nos recreios. É no recreio que a criança interage com mais intensidade com os seus pares, desenvolve amizades e também "ganha" alguns inimigos.
É nestas relações menos amistosas que por vezes se desencadeiam comportamentos de alguma agressividade e violência, e justamente tomam lugar nos recreios (Blatchford, 1989; Ross & Ryan, 1991; Whitney & Smith, 1993).
O fenómeno da agressividade tem desencadeado o interesse de vários estudiosos das mais diversas áreas, todos são unanimes em afirma que o Homem traz consigo um impulso agressivo. A agressividade é um comportamento emocional que faz parte da afectividade dos seres humanos, sendo algo de inato e natural. No entanto as crianças
No entanto a forma de reagir á agressividade varia de sujeito para sujeito, de sociedade para sociedade, de cultura para cultura com as suas crenças, valores e costumes.
Os actos de violência podem contudo ser aprendidos por meio da observação, ou seja, podemos considerá-los como um subproduto da reunião e interacção das pessoas em grupo (Wrightsman 1972).
A psicologia ao nível da agressividade deu o seu contributo através de diferentes teorias e correntes.
Na década de 1930, Miller e Dollard, propuseram a hipótese de frustração-agressão, sendo a agressão explicada como o produto de um frustração ou de um impedimento a algo desejado.
A agressividade é um fenómeno de reacção efectiva necessária para a adaptação social numa luta pela vida. Sem esta capacidade agressiva o Homem não resistirá ao meio onde vive. Ela é indispensável para conquistar um espaço no grupo social, fazendo face á concorrência e á competição. È a base construtiva de toda a actividade, de todas as realizações dignas do Homem, quer seja na arte, na industria ou outros diversos sectores.
A actividade e expressão da agressividade, são na realidade expressão de uma tendência e de um interesse, tendo em vista a criação e a manutenção de um ambiente na luta contra os diversos obstáculos, sobretudo os afectivos que se opõem ao indivíduo. Para Symonds, a agressividade traduz-se como uma “auto-afirmação dinâmica”.
A. Ramos (1963) associa a capacidade de atacar a uma desadaptação a um comportamento reactivo, como um movimento simbólico de raiva, ódio e fuga evasiva perante situações potencialmente perturbadoras de equilíbrio do sujeito.



Modelos Biológicos
“a agressão é um fenómeno natural ao serviço da evolução e da adaptação das espécies regido por regras bem definidas do jogo filogenético"


A agressão, segundo Lorenz, estará ao serviço da vida e não da morte como lhe parecia que pretendia Freud, sendo aliás paradoxal e desprovido de sentido, do ponto de vista biológico, o próprio conceito de instinto de morte (A. Bracinha Vieira e L. Socczka, 1981).
Por outro lado, se é difícil comprovar o caracter inato da agressividade, como defendia Lorenz e outros etólogos; actualmente, existem certos estudos neuropsicológicos e neurológicos em geral, sobre a excitação de alguns núcleos cerebrais e do sistema nervoso em geral que, segundo se julga, estão na base das respostas agressivas.

Modelos Psicológicos

As explicações freudianas ajudam a interpretar a agressividade. É necessário que a evolução da libido infantil (fase oral durante os primeiros 14 a 16 meses, fase anal até aos 3 anos, e fase da organização fálica dos 3 aos cinco anos) seja acompanhada pela formação e desenvolvimento afectivo da criança e, também, por uma influência adequada do meio envolvente.
Quando este equilíbrio não se realiza, o dinamismo instintivo, principalmente de oposição de reacções ás condições ambientais, interfere num mecanismo essencialmente agressivo. Sem o controle pela sublimação, pela repressão ou outro mecanismo de defesa, a criança não pode evitar a manifestação da agressividade.
Para Freud é durante o período edípiano, no qual a criança rivaliza com a figura relacional paterna do sexo oposto, que se implementa a formação da instância psíquica do superego. É uma fase de auto-formação afectiva do desenvolvimento psicossexual da organização da personalidade por vezes exagerada, que conduz facilmente ao dinamismo agressivo.
Adler e a sua escola atribuem a agressividade ao protesto viril e á super-compensação dos sentimentos de inferioridade.
A noção de pulsão agressiva foi, pela primeira vez, descrita por Adler (1908). Freud só a definiu mais tarde (1920) em termos de pulsão agressiva e de morte. Contudo, muitos psicanalistas não admitem o instinto de morte.

As teorias da aprendizagem em geral, denotam uma postura diferente. A agressividade será uma conduta aprendida; mediante a aprendizagem se produz ou reprime-se a agressividade. Segundo Bandura e Walters, uma relação paterna ou filial distante, em ambientes familiares hostis, a criança segue, maioritariamente, uma conduta, essencialmente, agressiva.

A conduta agressiva na criança é considerada por vários autores, como acontecimento secundário ás frustrações e a carências afectivas, perante sentimentos de perigo ou de ameaça permanente, no seio de uma família patogénica. Pode se referir a este propósito os estados ansiosos que acompanham o medo das brutalidades ou repressões parentais ou, simplesmente, em situações de jogo frustrante com os amigos e colegas da escola.

A agressividade pode tomar diferentes formas, segundo a idade e manifestar-se em várias dimensões: amuo, insucesso escolar, quebra de objectos, de vidros, etc. Por outro lado manifesta-se com violências, reportadas aos irmãos mais jovens e camaradas de escola, atitudes de desconfiança e hostilidade, agressividade difusa e sem ansiedade, segundo a conduta de organização psicopática ou ansiedade de tonalidade psicótica.

Nos últimos anos tem havido um aumento do interesse sobre o fenómeno bullying, mais concretamente no contexto escolar. Tornou-se, de facto, um problema que veio a atingir vários países, sendo os estudos publicados provenientes de países desenvolvidos. É um problema que assume efeitos nefastos no ambiente social das escolas traduzindo-se pelo medo de algumas crianças em frequentá-la, podendo comprometer o progresso académico-social dos alunos.

Segundo a definição de Tattum (1992), bullying é a intenção, o desejo consciente de magoar alguém colocando-a em stress. Portanto qualquer sujeito que tencione magoar alguém é por definição um Bully.

Dan Olweus (1993) definiu o bullying como um “comportamento negativo” com o objectivo de magoar e maltratar alguém, repetidamente e em diversas ocasiões.

David Farrington (1993), por sua vez, acrescenta que o bullying é “uma repressão de carácter repetitivo, física ou psicológica, de alguém mais ‘poderoso’ sob alguém mais ‘fraco’”.

O Bullying pode assumir duas formas: a física e a psicológica, este comportamento negativo poderá simplesmente traduzir-se por um assopro, um insulto ou gesto ofensivo, gozar, ameaçar, assustar, agredir/bater ou roubar, adicionalmente aos ataques directos, o bullying pode assumir uma forma indirecta, assim como espalhar boatos acerca de uma determinada pessoa ou exclusão social.

No sentido de se diferenciar o bullying de actos de violência e agressividade, Dan Olweus, sugere que o bullying surge apenas quando existe um “desequilíbrio de forças”, ou seja, o agressor ou grupo de agressores são mais fortes do que o sujeito alvo, ou melhor, a vítima.

Podemos apontar duas considerações em que podemos identificar a prática de bullying. Uma delas é direccionada para os sentimentos do alvo agredido, o sentimento de opressão que a vitima de bullying invariavelmente sente. O segundo aspecto remete-nos para o bully em si, certamente poderíamos esperar um sentimento de glória e triunfo pelo prazer do acto que cometeu. Pelo contrário, Olweus afirma que o bully fica satisfeito por ver a vitima a chorar ou em sofrimento, mas com o passar do tempo poderá desencadear-lhe sentimentos de remorsos desses mesmos actos.

Olweus (1992) identificou uma associação entre vitimização no 2º Ciclo com um défice no domínio da auto-estima, com uma predisposição para depressão aos 23 anos. No entanto, não foram identificados quaisquer dados relativos a psicopatologia.

Kochenderfer e Ladd (1996) realizou um estudo longitudinal em crianças do ensino primário e identificou uma evidencia de vitimização pelos colegas que veio consequentemente a originar uma inadaptação destas crianças.

Rigby (1998) realizou um estudo longitudinal durante três anos, em crianças do ensino secundário. Este estudo revelou a existência de uma ligação causal entre vitimização e baixos níveis de bem estar.

PORTUGAL

O fenómeno do bullying foi descrito em Portugal por Ana Tomás e Beatriz Oliveira em 1992-93, através de um projecto anti-bullying na Universidade do Minho, em Braga, no Instituto de Estudos da Criança (Almeida, Pereira & Valente, 1993; Mendonça, Neto, Pereira & Almeida, 1997). Um estudo feito entre o 1º e 2º Ciclo da escolaridade obrigatória a aproximadamente a 6200 alunos, de escolas estatais de zonas urbanas, suburbanas e rurais do distrito de Braga. Aquilo que se observou foi que a problemática revelada coincidia com a realidade descrita de estudos anteriores fora do país, com especial semelhança dos países latinos, nomeadamente com Espanha e Itália. Aspectos socio-culturais chamaram á atenção para trajectórias precoces de desajustamento grupo de crianças de risco relacionadas com o aumento do bullying entre colegas. Resultante a este estudo, surgiu um programa de intervenção ao nível de treinos sociais, actividades integradas nos currículos e melhorias dos espaços de recreio.



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